Frente Baiana de Manutenção terá importante papel na conservação de equipamentos públicos

Avaliação é do presidente do Sinaenco/BA, engenheiro Carlos Alberto Stagliorio. Confira a entrevista.

A criação no mês de junho último da Frente Baiana de Manutenção, que congrega entidades da engenharia, como a regional Bahia do Sinaenco e o Crea/BA, e órgãos ligados à manutenção e à infraestrutura da Prefeitura de Salvador terá papel fundamental na busca pela melhoria da manutenção dos equipamentos públicos soteropolitanos, avalia nesta entrevista o presidente do Sinaenco/BA, engenheiro Carlos Alberto Stagliorio.

Stagliorio prevê que o surgimento dessa frente de entidades da engenharia – e, também, da arquitetura e da manutenção – e do poder público servirá de exemplo para iniciativas semelhantes em outros municípios e regiões do Estado da Bahia e do Brasil.

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Como surgiu a ideia de criar uma Frente Baiana de Manutenção?

A proposta de criar essa frente que reúne inicialmente entidades da engenharia e órgãos da Prefeitura de Salvador surgiu a partir da realização pelo Sinaenco, em maio último, do levantamento “Infraestrutura de Salvador: Prazo de Validade Vencido”, que avaliou o estado de manutenção de 31 equipamentos públicos da capital baiana, especialmente de viadutos e pontes. Nesse levantamento, constatou-se que a maioria desses equipamentos públicos estava em estado péssimo ou ruim, oferecendo riscos aos seus usuários. Esse foi o terceiro estudo desenvolvido pelo Sinaenco em Salvador. Com a repercussão pública, por intermédio da divulgação dos resultados desse estudo pelos principais veículos da imprensa baiana, o Crea/BA propôs a realização de uma reunião na sua sede com o Sinaenco/BA e representantes de órgãos da Prefeitura de Salvador ligados à manutenção, como a Seman, e à infraestrutura, como a Seinfra, entre outros, a exemplo da Sucop e Asmea. Inicialmente batizado de Grupo de Trabalho Permanente pela Manutenção, decidimos posteriormente chamar esse grupo de Frente Baiana de Manutenção, que busca abrigar e envolver em suas atividades entidades representativas da engenharia, da arquitetura e da manutenção, além é claro dos representantes da Prefeitura de Salvador, no caso, da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) e da Secretaria de Manutenção (Seman). O novo nome também reflete o desejo das entidades que participaram da criação desse órgão de estender essas atividades para outros municípios e regiões da Bahia e de integrar a essa frente representantes de entidades da arquitetura e da engenharia de construção e de manutenção, a fim de aumentar sua representatividade e capacidade de trabalho.

Como serão desenvolvidas as atividades dessa frente em relação à manutenção dos equipamentos públicos e privados?

O que se pretende com essa Frente é fazer o levantamento, por intermédio de seus membros, dos principais problemas ligados à manutenção. Como ela é integrada principalmente por engenheiros – mas pretendemos convidar também representantes da arquitetura para participar -, esse levantamento evidentemente tem uma visão mais técnica. Estamos preparando um formulário-padrão para uniformizar os itens a serem verificados, definindo o tipo do problema, sua intensidade e severidade e se existe risco para a população. E, também, a sugestão de uma forma técnica de atacar o problema e que possa, assim, servir de balizamento seguro para que os órgãos da Prefeitura de Salvador ligados à infraestrutura e à manutenção desenvolvam as ações corretivas necessárias e adequadas.

Já houve definição sobre quais os tipos de equipamentos públicos que serão objeto de avaliação?

Sim. Definimos que, inicialmente, serão avaliados viadutos, pontes, passarelas, marquises e escadas drenantes da capital da Bahia. É preciso destacar que esse levantamento será um trabalho voluntário dos integrantes da Frente. Posteriormente, os serviços de projeto/planejamento e reparação terão de ser feitos pela Prefeitura de Salvador, evidentemente. Recomendamos fortemente que a Prefeitura siga as boas práticas da engenharia e da manutenção para a realização dessas obras.

E quais são essas boas práticas?

Em primeiro lugar, que seja feito um planejamento de obras, definindo as prioridades com base na avaliação de risco e de intensidade/severidade dos problemas. Em seguida, que a Prefeitura licite e contrate bons projetos, com base na melhor solução técnica, para a reparação dos problemas, reparação essa que deve ser feita por construtoras com capacidade técnica para tal e seguindo o projeto elaborado previamente. Essa é a recomendação que fazemos para a Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop) de Salvador, que pretende lançar em breve uma licitação para a contratação de serviços de manutenção de viadutos. Se não forem observadas as boas práticas da engenharia, são enormes as chances de execução de obras de má-qualidade, portanto sem durabilidade e representando desperdício dos escassos recursos públicos. É fundamental adotar as práticas recomendadas tecnicamente para a boa execução de obras, públicas e privadas.

E qual a sua recomendação, com base na sua experiência profissional em manutenção?

Em atividades de manutenção, há três fases: a do planejamento, a da análise e a do controle. Todas essas etapas precisam cuidar de três variáveis, por sua vez: do desempenho/qualidade, a da programação/cronograma e a do orçamento/custo. No planejamento, precisa verificar o projeto e suas especificações; na análise da execução, se está sendo seguido o projeto e as boas práticas de obras e a identificação dos desvios existentes em relação ao planejamento; e no controle, identificados os desvios, exercer a sua correção em relação ao planejado/projetado. Os projetos de arquitetura e de engenharia são parte fundamental do planejamento. A operação e a manutenção têm de estar pensadas no projeto. Por isso, a Frente Baiana de Manutenção recomenda fortemente que exista o planejamento adequado e o bom projeto antes da execução da obra. E ressalto que um bom projeto se paga na execução.

Como a Frente Baiana de Manutenção pretende expandir suas atividades, no futuro?

Entendemos que essa iniciativa, surgida a partir da campanha do Sinaenco intitulada “Infraestrutura: Prazo de Validade Vencido” e que contou com a fundamental participação do Crea/BA no seu lançamento, é muito importante para a manutenção dos equipamentos públicos não apenas de Salvador, mas de todo o Estado da Bahia. Estamos dispostos a participar de reuniões com representantes de entidades da engenharia, arquitetura e manutenção, entre elas destacamos o Crea, pela sua presença na maioria dos municípios e regiões baianos, e dos poderes públicos municipais e estaduais para incentivar a criação de seções regionais dessa frente em todo o Estado da Bahia. E estamos abertos à participação de outras entidades e de profissionais da arquitetura e da engenharia, de organismos ligados à manutenção de equipamentos públicos e privados.

Como o senhor vê a importância do Sinaenco na expansão e criação de frentes de manutenção em outros municípios e estados brasileiros?

A participação do Sinaenco foi muito importante para a criação da Frente Baiana de Manutenção e, pela sua presença nos principais estados brasileiros por meio de suas regionais e por sua experiência em estudos sobre a situação de manutenção dos equipamentos públicos em diversas capitais e cidades brasileiras, tenho certeza que o Sindicato, sempre em parceria com as demais entidades da arquitetura, da engenharia e da manutenção, terá papel central na expansão dessa proposta pelo país. Recentemente, soubemos do interesse de diretores do Sinaenco/SP em discutir e verificar como foi criada a Frente de Manutenção na Bahia, com o intuito de implantar iniciativa semelhante em São Paulo. Esse pode ser a primeira expansão de uma proposta que deve se espalhar pelo Brasil, pela importância do tema para a sociedade brasileira.