Crise: salários de profissionais e faturamento das empresas de engenharia em queda

Crise derruba pela metade salários no setor de engenharia de projetos

O setor da engenharia de projetos na construção civil tem sido um dos mais afetados pela crise na economia brasileira. Prova disso é que o salário dos profissionais que buscam o primeiro emprego ou recolocação no mercado caiu até pela metade nos últimos seis meses, segundo levantamento da consultoria Page Personnel.

Na pesquisa, em que foram avaliadas remunerações de 10 mil candidatos entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, constatou-se que a expectativa salarial do engenheiro de projetos vai de R$ 6 mil a R$ 8 mil. Há um ano, no entanto, a variação acontecia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil.

José Roberto Bernasconi, presidente nacional do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia), vê o frágil momento político como um dos motivos para a redução de salários. Ele acredita que as grandes empresas envolvidas em escândalos de corrupção afetam toda sua cadeia de fornecedores: “No caso da Petrobras, quando ela perdeu seus contratos, parou a fabricação dos navios-sonda, das plataformas de petróleo e das compressas de refinarias. Todo mundo que estava subcontratado dançou. Houve queda dessas contratantes, então foram jogados no mercado profissionais qualificados sem alternativa, devido a especialização em petróleo [neste caso]”.

Fora das áreas nas quais são especialistas, estes engenheiros são obrigados a se realocar em outros cargos, aceitando salários mais baixos em grande parte dos casos. “É uma questão de sobrevivência. Quem é recém formado não tem experiência e tem mais dificuldade, mas qualquer profissional que fique parado por muito tempo vai consumir suas reservas financeiras e se desatualizar. Assim, ele deixa de se manter em forma, como um atleta. Ele vai perdendo técnicas e aceita uma colocação por remuneração menor esperando novos tempos”, explica Bernasconi.

O tempo médio para recolocação de um engenheiro de projetos realmente se tornou um problema: antes a recolocação se dava em um ou dois meses. Atualmente, eles ficam desempregados de 3 a 12 meses. Lucas Oggiam, gerente da Page Personnel, reforça a ideia e ainda diz que o profissional aceita ganhar em torno de 10% a 20% a menos em comparação ao salário anterior tamanha é a demora do processo seletivo. “Aqueles que analisam o mercado não sabem o que vai acontecer. Existem diversos cenários, mas nada é certo. Quem está procurando um nova oportunidade, é melhor que se agarre ao que tem”, afirma.

Além disso, o gerente da consultoria também vê o mercado de engenharia com um posicionamento diferente dos demais em relação ao perfil de profissional desejado: “Diferente da maioria das outras áreas no Brasil, as empresas de engenharia buscam profissionais com mais tempo de vida profissional. Outras dão muita chance para os jovens, mas o engenheiro tem sofrido para ingressar na carreira. Ele se forma e não consegue avançar por falta de oportunidade no início. Pessoas com muita experiência sofrem, pessoas com pouca experiência sofrem mais”.

Para Bernasconi, o engenheiro de projetos tem a possibilidade de fugir da crise no setor buscando colocação em outras áreas: “Ele é um solucionador de problemas. Pode atuar na administração, pode ser gestor. Ele se adapta, tem capacidade de empreendedor. Os bancos sempre foram empregadores de engenheiros, principalmente por conta da formação matemática”. No entanto, o presidente do Sinaenco ressalta que, mesmo assim, este profissional não deve esperar facilidade na hora de buscar outros empregos. “Não basta ser engenheiro para ter uma colocação. Com menos experiência, você tem mais dificuldade. Pode até não conseguir emprego, mas pode, sim, tentar se virar em outras áreas”, completa.

Faturamento das empresas
A arrecadação das empresas que atuam no ramo também caiu pela metade em 2015, segundo pesquisa do Sinaenco. Foram avaliadas mais de 500 empresas nacionais dos mais diversos portes.

Bernasconi acredita que a redução seja fruto de problemas generalizados na economia do país: “Em 2014, o crescimento da economia foi de apenas 0,1%. Em 2015, houve queda de 3,8%. Já existem previsões de redução para 2016 que vão de 4,3% a 4,5%, além do arrastamento para o ano de 2017. Com isso, o desemprego segue aumentando e atividade econômica em declínio. Houve decisões muito equivocadas na administração. Há interferências externas, desmanche por decisões na produção de energia, desestruturação do setor energético…quando a economia trava, a arrecadação caminha para trás. Deixamos de receber e repassar”.

A solução para os problemas no setor, diz Bernasconi, passa pelo governo. “Se não houver investimento, você diminui a oferta (…) Tem que corrigir a previdência, os gastos públicos e fazer uma reformulação em todos os sistemas”,avalia.