BIM, uma solução e novos desafios

Encontro reúne cadeia produtiva da construção para conhecer experiências e desafios colocados pela nova metologia de projeto.

Building Information Modeling (BIM) é a promessa de realização de um velho sonho de construtores: modelos computadorizados que funcionam exatamente como a obra pronta e que já trazem em si todas as informações de materiais necessários, mão de obra, e serviços necessários à operação e manutenção da construção ao longo de sua vida útil.

“É uma ferramenta disruptiva. Até hoje, desde o Renascimento, a ideia do projeto foi sempre baseada na representação da construção por meio de desenhos e para isso já se usou lápis, canetas e, inclusive, o CAD. Mas o BIM vai muito mais longe e permite modelar virtualmente o edifício como se ele estivesse realmente sendo construído. Quando o projetista lança uma parede no BIM ele não está desenhando duas linhas paralelas que representam a parede; está modelando, incluindo os atributos estruturais, revestimentos, instalações, enfim, tudo o que irá compor essa parede”, explica Eduardo Sampaio Nardelli, vice-presidente de Arquitetura do Sinaenco/SP.

“Ao fazer a modelagem, todas as disciplinas técnicas envolvidas estão juntas e em detalhes: estrutura, instalações hidráulicas, instalações elétricas e não apenas esquematicamente, até mesmo a posição do quadro de luz na parede terá que ser resolvida no modelo, que, desse modo, permitirá a simulação do desempenho térmico e acústico do modelo do edifício a ser construído”, complementa o diretor do Sinaenco/SP.

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Nardelli, do Sinaenco/SP: Bim lança novos desafios para o setor da construção e, sobretudo, para as empresas de A&EC. 

Nardelli representou o Sinaenco no “Seminário BIM: Oportunidade para inovar a indústria da construção e aumentar a transparência das compras públicas” realizado na semana passada em Brasília (DF) pela CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção. O encontro reuniu 130 profissionais e representantes de entidades de todo o país, que puderam conhecer e debater as principais novidades e os maiores desafios para a implantação do novo sistema de projeto no Brasil. “Foi um evento de disseminação do conhecimento sobre o BIM. Mostrou cases de sucesso, alguns problemas, mas não foi a fundo nos detalhes que se encontram no trabalho do dia a dia”.

Entusiasta da nova tecnologia, Eduardo Sampaio Nardelli adverte, porém, que o BIM também lança novos desafios para o setor de construção e, em especial, para a área de arquitetura e engenharia consultiva (A&EC).

“Você traz para a etapa do projeto uma ação de construção, incluindo todas as informações de custo. Pode extrair as vistas, desenhos, a lista de materiais, quanto vai de argamassa, e até simular ensaios de resistência a ventos, movimentos sísmicos, iluminação, conforto térmico e acústico. Teoricamente, ele resolve as improvisações, elimina desperdícios e dá total transparência para as contratações de obras. No entanto, o que é uma parede? O que é uma porta? Essa porta inclui batente e fechadura?”Nardelli responde e explica que a aplicação do BIM – especialmente em empreendimentos públicos – exige a padronização de conceitos, que ainda não são homogêneos e consensuais. “Precisamos codificar todos esses componentes, ordenar o mercado da construção e criar um critério único”, completa o arquiteto.

BIM no mercado

O Brasil está em uma fase intermediária de implantação do BIM, segundo a metodologia de avaliação do especialista Bilal Succar.

O Brasil está em uma fase intermediária de implantação do BIM, segundo a metodologia de avaliação do especialista Bilal Succar, um dos palestrantes do evento da CBIC. Succar desenvolveu uma análise – com oito fatores – que permite dimensionar o estado de maturidade da utilização do BIM em cada mercado. “São fatores como o número de casos de sucesso, quantidade de eventos e trabalhos acadêmicos, a existência de políticas públicas para estímulo ao uso do BIM ou a infraestrutura adequada nas empresas de projeto”, explica Nardelli.

Em 2014, o diretor do Sinaenco/SP realizou um trabalho com essa metodologia e a partir dessa medição concluiu que o Brasil estava em nível médio. “O país está numa fase em que várias empresas do setor privado adotaram o BIM porque passaram por uma forte expansão e precisavam de uma ferramenta de gestão. E investiram muito nisso. Criou-se até um grupo de trabalho, que funcionou bem pelo menos até 2012, quando o mercado imobiliário entrou em crise”, lembra.

Nesse período, iniciou-se a elaboração de normas técnicas, “o que é muito importante, porque vai dando um regramento ao setor”. Resultado dessa atividade é a série de normas ABNT NBR 15965 e a ABNT NBR ISO 12006, reunidas em uma coletânea da ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas.

O Sinaenco está participando do Comitê Estratégico de Implementação do BIM.Trata-se de um grupo interministerial coordenado pelo MDIC, com a participação de vários ministérios.

O diretor lembra que o Sinaenco já está participando do Comitê Estratégico de Implementação do BIM (CE BIM), que foi criado pelo Decreto Federal 14.473/2017. Trata-se de um grupo interministerial coordenado pelo Ministério da Indústria Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), com a participação de vários ministérios. O Sinaenco vai participar do grupo que discute regulamentação e normalização, explica Nardelli.

BIM e o setor de Projetos
Eduardo Nardelli acredita que todas as empresas de projeto devem preparar-se para adotar o BIM em suas atividades. Antes, ele sugere que o país teria de adotar uma legislação de contratações que justifique a adoção do BIM. “A maioria das empresas ligadas ao setor de AEC presta serviços a órgãos públicos. E em cada contratante há critérios que não são exatamente iguais, e em alguns casos são bem diferentes. Além disso, se uma empresa vai ser contratada para fazer a arquitetura de um hospital, mas os projetos complementares serão feitos por outras empresas, é necessário compatibilizar a metodologia de projeto para evitar interferências.”

Outro problema é o investimento necessário e as formas de financiamento dessa adaptação das empresas. “Quem vai pagar essa conta de implantação do BIM? O governo vai subsidiar um crédito e dar garantia de continuidade? Ou nós teremos que correr o risco de fazer esse investimento em nossas empresas?”, questiona Nardelli.

O diretor do Sinaenco não tem dúvidas de que, em médio prazo, o sistema vai ser implantado nos órgãos públicos do Brasil. Assim, ele defende que as empresas precisam estar preparadas. Mas, lembra que há uma série de dúvidas sobre a estratégia para a implantação do BIM no país. “Temos de pensar em um prazo de dez anos, com apoio de uma política pública de Estado, não de governo, para que haja continuidade e segurança. De nossa parte, queremos disseminar essa cultura da informação por meio do Sinaenco e talvez criar cursos e seminários para orientar as empresas. Estamos nos organizando para isso”, completa o vice-presidente do Sinaenco/SP.