A Modelagem da Informação da Construção (BIM) consiste em um conjunto de políticas, processos e tecnologias que, bem implementado, traz grandes benefícios à administração pública. O Brasil possui hoje um arcabouço regulatório que favorece a adoção do BIM, direcionado majoritariamente por esforços top-down do Governo Federal orientados pela Estratégia BIM BR, publicada em 2018 pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. De uma maneira geral, a Estratégia espera promover resultados de ganhos de produtividade, melhoria de transparência nos processos licitatórios, acurácia no planejamento, ganhos de qualidade nas obras públicas, e redução de ativos contratuais. 

O reconhecimento do BIM como a espinha dorsal dos processos de Transformação Digital na Construção Civil pode endereçar inúmeros desafios no âmbito das cidades, cada vez maiores diante de um acelerado crescimento populacional. Ano passado, a Organização das Nações Unidas anunciou que a população mundial atingiu a marca de 8 bilhões de pessoas. Essa tendência de crescimento impulsiona a necessidade de investimentos em infraestrutura urbana e serviços públicos essenciais, tais como mobilidade, habitação, saúde, educação, saneamento básico, água e energia elétrica, dentre outros tantos – seja para novos empreendimentos, seja para a modernização dos ativos construídos. 

Esse contexto se traduz em oportunidades de desenvolvimento sustentável e na aplicação de novas tecnologias digitais nas cidades, de maneira a contribuir com a resolução de problemas públicos, proporcionando uma maior qualidade de vida para os cidadãos. 

Estudos de viabilidade de cenários de intervenção atrelados ao custo-benefício 

Projeto Beira Foz: Fundação Parque Tecnológico de Itaipu
em conjunto com TPF Engenharia

Entre tantas cidades brasileiras que têm usufruído do BIM para materializar as suas intervenções urbanas está Foz do Iguaçu, no Paraná. O projeto Beira Foz, iniciativa do Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), com o apoio da Prefeitura Municipal, tem por objetivo reestruturar a região próxima ao Rio Paraná, entre o Jardim Jupira e o centro da cidade. Seu escopo compreende a implantação de dispositivos de ligação entre bairros, parques e obras de arte especiais, bem como a requalificação de trechos viários e de ocupação comercial. 

“Nós já entendemos que o resultado final é atingido com maior qualidade quando realizamos a contratação para que os projetos sejam desenvolvidos em BIM desde o princípio.”  

– Lauane Aponte, Arquiteta e Urbanista na Fundação PTI-BR 

Vencedora do edital para a contratação da primeira etapa deste projeto, a TPF Engenharia – empresa especializada em projetos de macro infraestrutura – foi responsável pelo levantamento de dados, diagnóstico, elaboração de estudo preliminar e anteprojeto. Tudo feito em BIM. A proposta adotou premissas de sustentabilidade e integração sociocultural, considerando aspectos relevantes como: incentivo à mobilidade ativa, implantação de espaços para a comunidade e mecanismos para retenção e reuso de águas pluviais. O partido do projeto teve a sua inspiração em uma das grandes atrações da cidade, as Cataratas do Iguaçu. 

A modelagem da informação da cidade foi fundamental no desenvolvimento de todas as onze disciplinas de projeto, suportada por fluxos robustos de interoperabilidade, desempenho e produção de entregáveis. O uso do Autodesk Civil 3D – ferramenta BIM de referência para projetos de infraestrutura, permitiu a criação multidisciplinar e uma cuidadosa análise antecipada do traçado sob a Rodovia BR-277, sendo este estudo decisivo para a escolha de sua melhor localização. Profissionais e munícipes também obtiveram maior entendimento do projeto ao visualizar a passarela de ligação para pedestres e ciclistas – concebida e modelada no Autodesk Revit, em conjunto com os Parques da Foz Arroio Monjoio e Integração. Além dos processos de compatibilização e visualização integrada do projeto para aprovação, os modelos técnicos produzidos foram renderizados em tempo real, permitindo a divulgação institucional das intervenções propostas. Em seis meses, os resultados da primeira etapa e dos usos do BIM nos estudos de viabilidade são evidentes. O engajamento entre PTI e TPF Engenharia foi impulsionado pela clara compreensão dos cenários e da proposta final, facilitando solicitações de intervenção e tomadas de decisão. Agora, o PTI tem em mãos modelos digitais que subsidiarão, na contratação da segunda etapa do projeto, a elaboração e entrega dos projetos básico e executivo. 

Mobilidade, Colaboração e Gestão de Contratos 

Complexo do Tarumã, em Curitiba

Curitiba, eleita a cidade mais inteligente e conectada do Brasil, implantou o seu laboratório especializado em BIM por meio do seu tradicional Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC) – responsável pela gestão do crescimento do município há mais de 50 anos. O objetivo da prefeitura é inovar no planejamento a partir do sistema de mobilidade e atender aos programas multilaterais financiados por instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos Brics e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). 

“Estamos focados, nos próximos anos, na implantação de projetos de mobilidade, urbanização e habitação social. Para nos dar todo o embasamento para a execução das obras, estamos trabalhando com as ferramentas BIM Autodesk, que têm nos ajudado desde a concepção de melhores projetos ao gerenciamento das obras”. 

– Márcio Teixeira, Diretor Técnico da Unidade Técnico Administrativa de Gerenciamento – IPPUC 

Do Sistema de Informação Geográfica ao BIM, o IPPUC tem realizado estudos de viabilidade da malha viária e análises socioeconômicas no modelo da informação da cidade, gerado no Autodesk Infraworks. A avaliação preventiva e preditiva dos projetos contratados no ambiente de modelagem abarca, por exemplo, a viabilidade de obras de arte especiais, a distância de visibilidade dos motoristas em interseções – mitigando possíveis riscos de colisões, e a simulação de tráfego – permitindo antecipar as melhores alternativas para cada contexto. 

No que tange à colaboração digital, o IPPUC optou pelos dados em nuvem por meio de Ambiente Comum de Dados (CDE) também baseado em tecnologia Autodesk. A plataforma Autodesk Docs tem ajudado o IPPUC no gerenciamento dos contratos, em um melhor entendimento dos projetos e suas interferências, e no engajamento das empresas parceiras. A equipe da autarquia observou maior eficiência e agilidade na comunicação e nas solicitações de revisão em tempo real, trazendo benefícios como a redução de prazos de aprovações. Além de toda a produção técnica facilitada pelo BIM, Curitiba valoriza o envolvimento da população no processo, e divulga publicamente os modelos para que os cidadãos compreendam e acompanhem as intervenções em seu município. 

“Em Curitiba, inovação é um processo social. A cidade só é inteligente quando melhora e facilita a vida das pessoas”, afirma Rafael Greca, prefeito da cidade. 

Já foram beneficiados pela visão inovadora do IPPUC o Programa de Gestão Climática Bairro Novo do Caximba, o projeto do Binário Olga Balster x Nivaldo Braga, e o Programa Complexo do Tarumã. 

Visão de Inovação 

Os casos apresentados exemplificam e destacam a evolução da maturidade tecnológica das cidades brasileiras e a importância do estabelecimento de políticas e projetos estratégicos de adoção do BIM para efetivar a mudança de cultura no âmbito da administração pública. O legado digital proporcionado pelo BIM e tecnologias correlatas permitirá uma melhor gestão do patrimônio e dos ativos públicos. Nesse processo, os órgãos públicos são o grande polo indutor de inovação do seu ecossistema de fornecedores, ampliando os benefícios da transformação digital para as empresas contratadas para a execução de serviços e obras de arquitetura e engenharia. No final, os cidadãos agradecem. 

Para saber mais: https://www.autodesk.com.br/campaigns/smart-cities 

Artigo escrito por Fernanda Machado (Executiva de Indústria Sr. | Autodesk) e Ricardo Bianca (Executiva de Indústria Sr. | Autodesk)