Brasília, uma capital sem calçadas
Pedestres sofrem com as péssimas condições das calçadas e a falta de sinalização adequada em algumas avenidas de grande movimento.
Caminhar, em qualquer cidade brasileira, é coisa para valente. Em Brasília, capital superlativa, quilométrica, pensada para o automóvel, o desafio é suavizado por um bom hábito dos motoristas: eles param nas faixas de segurança para permitir a travessia das pessoas. Mas os caminhantes sofrem muito com as péssimas condições das calçadas e a falta de sinalização adequada em algumas avenidas de grande movimento.
É simbólico que o Brasil tenha uma cidade articulada pelo automóvel como sua capital. A cidade nasceu no momento em que a indústria do carro chegava ao país, pelas mãos de Juscelino Kubistchek, o presidente que adorava automóveis.
O próprio Lúcio Costa, urbanista que desenhou o Plano Piloto, afirmava que a rede geral de circulação na cidade era mesmo baseada no tráfego motorizado. Em um texto dos anos 1960, Costa lembrava que o projeto da cidade estabelecia “tramas autônomas para o trânsito local dos pedestres a fim de garantir-lhes o uso livre do chão, sem contudo levar tal separação a extremos sistemáticos e antinaturais, pois não se deve esquecer que o automóvel, hoje em dia, deixou de ser o inimigo inconciliável do homem, domesticou-se, já faz, por assim dizer, parte da família…”
Essa relação se manteve mais ou menos equilibrada até os anos 1990, quando Brasília adotou a cultura de respeito à faixa de pedestres. Naqueles anos as calçadas ainda estavam relativamente bem mantidas e não sofriam a “invasão motorizada”.
Se estivesse vivo, Lúcio Costa hoje certamente se assustaria ao ver a sua Brasília tomada por milhares de carros, a ocupar calçadas, gramados e qualquer espaço “livre” que possa funcionar como estacionamento, tal como revelam as fotos e vídeos registrados por ativistas brasilienses.
São calçadas esburacadas, descontínuas, que encaminham o pedestre a armadilhas, onde não há guias rebaixadas, semáforos e nem faixas de pedestres. Outras imagens mostram calçadas e ciclovias bloqueadas por carros, impedindo a passagem das pessoas e obrigando que trafeguem pela via, arriscando suas vidas ao lado dos veículos.
Cidades com validade vencida?
Desde 2005, o Sinaenco vem realizando a campanha Infraestrutura com Prazo de Validade Vencido para avaliar as condições aparentes de manutenção de pontes, viadutos, praças e parques e edificações públicas nas cidades brasileiras. Já foram avaliadas 22 localidades, entre capitais e cidades do interior, e os resultados desse trabalho foram apresentados, com grande repercussão, às autoridades e populações locais por meio da imprensa. A meta é sensibilizar a opinião pública e gestores a melhorarem os cuidados com a manutenção do patrimônio .
Nesta semana, o Sinaenco está presente no IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS), realizado pela Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que acontece até o dia 28 de abril, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Ruas completas
No encontro, que reunirá prefeituras de todo o país, o sindicato está realizando projeto Ruas Completas, um espaço de 130 metros quadrados com um recorte de excelência em termos de acessibilidade, mobilidade, calçadas, drenagem e pavimentação. A instalação foi desenvolvida sob o conceito de acessibilidade universal para mostrar um exemplo de convivência harmoniosa entre pedestres, ciclistas, ônibus e automóveis, contemplando calçadas, piso tátil, vias compartilhadas, fachadas ativas, iluminação na escala do pedestre, drenagem por meio de biovaletas e paraciclos.