Desafios para implantação do BIM no Brasil e no mundo
O terceiro e último dia de Seminário BIM trouxe um panorama da adoção das metodologias no mundo, discussões sobre lean construction e facilities management, e projetos inspiradores com o uso das metodologias.
Confira, a seguir, resumo dos painéis e mesas-redondas virtuais que ocorreram em 26 de novembro.
>>> Impulsionadores do BIM no mundo
Painel moderado pelo professor da Escola Politécnica da USP e membro fundador do BIM Fórum Brasil, Eduardo Toledo, contou com a participação de lideranças que estão à frente de iniciativas de disseminação do BIM na África e Índia e Brasil
Moses Itanola, diretor-executivo do BIM Africa, apontou a demanda crescente do continente africano por infraestrutura, enquanto pesquisas mostram que 80% da indústria do continente ainda não usa o BIM. A falta de certificação inicial, de apoio do governo e até mesmo de um capital inicial para a transição são empecilhos para a disseminação do modelo, mas ainda é possível apontar cases de sucesso.
“O objetivo do BIM Africa é, até 2025, educar mais de 500 mil entidades africanas, por meio de eventos e treinamentos. Apostamos em uma abordagem abrangente, buscando coordenadores em cada país e interagindo com iniciativas já existentes. Nossa prioridade é trazer para a África a possibilidade de entregar projetos de qualidade, eficientes e com rapidez”, explicou o nigeriano.
Dr. Amarnath CB, presidente da National BIM Society – India Building Information Modeling Association, mencionou que, apesar das diferenças de maturidade dos países com relação ao BIM, os desafios são parecidos ao redor do mundo, que em maior ou menor grau está se transformando digitalmente.
As dificuldades abrangem não só a indústria, mas também a academia e as instituições governamentais. “O BIM não tem a ver só com software, é um modelo de gestão de dados. Por isso, o foco tem que ser a colaboração entre as partes: legisladores, pessoas, academia e tecnologias, juntos, para que a transformação possa acontecer”, disse.
Wilton Catelani, presidente do BIM Fórum Brasil, por sua vez, trouxe um pouco da trajetória, objetivos da instituição brasileira. A entidade, sem fins lucrativos, foi criada há poucos meses para engajar, representar e unir, sob o enfoque do BIM, os principais agentes que atuam na indústria da construção no Brasil. “O Brasil está um pouco atrasado, mas finalmente, nascemos. Nossa prioridade com certeza é capacitar diferentes níveis da indústria da construção, ajudar as pessoas a se atualizarem e compreenderem melhor do que se trata o BIM”, disse.
>>> Lean construction e gestão de facilities
Outros dois painéis trataram de discutir a integração do BIM a conceitos inovadores. A construção enxuta, ou lean construction, foi tema do primeiro e trouxe especialistas no tema, sob a coordenação da professora e especialista em BIM, Rita Ferreira.
“Hoje, o cenário é de 30% de desperdício na indústria da construção civil, considerando entulho, transporte, armazenagem, entre outros fatores. Ao serem perguntados sobre suas dores, o setor considera que 41% vem dos processos, 34% de uma política mal definida, 15% das pessoas e apenas 10% da tecnologia”, contextualizou engenheira Márcia Coddeco, da Vistta Consultoria. “Ou seja: só mudar ou adotar uma tecnologia não vai resolver os problemas”.
Em sus visão, é necessária uma mudança que redesenhe os processos que dão suporte à gestão, começando por uma mudança de cultura nas instituições, que abranja novas tecnologias, colaboração efetiva, documentos como cadernos e manuais, novos modelos de gestão e indicadores de resultados. “Lean e BIM se faz em conjunto com as pessoas”.
O engenheiro João Vicente Ribeiro, da Dassaut Systèmes, lembrou que no Brasil 35% dos projetos de capital excedem o orçamento e o tempo em mais de 10%. “O BIM como está sendo feito hoje é para vender software. O setor da construção precisa mudar a perspectiva, focar na integração de silos em toda a cadeia do ciclo de vida. E a transformação tem que vir da governança das instituições, devagar e em ondas, para que em alguns anos, a organização possa realmente dizer que está num processo de transformação digital, que não tem fim”, avaliou o profissional.
Já o painel sobre facilities management (FM) trouxe a palestra do consultor Rogério Suzuki, membro fundador do BIM Fórum Brasil e com 20 anos de experiência de aplicações em BIM e FM. Para ele, tem se discutido muito sobre o BIM no início e no meio do ciclo de vida da construção, que incluem projeto e execução das obras, mas pouco no uso e manutenção, que correspondem a 75% dos gastos de um empreendimento.
“Essa etapa pode ser considerada durante a modelagem, e as informações devem ser transmitidas das fases anteriores para a operação de um edifício, por exemplo. Alguns estudos de caso apontam até a 32% de economia de energia com o uso do BIM associado ao FM”, disse Suzuki.
>>> Projetos inspiradores em BIM
O dia também foi marcado por apresentações de cases de sucesso com o uso do BIM. Projetos grandes e pequenos, nacionais e internacionais, foram detalhados numa demonstração das possibilidades oferecidas pelas tecnologias.
Gustavo Peres, da BIM Works, apresentou o case do projeto de acesso à ponte sobre o Rio Tietê, em São Paulo, obra de infraestrutura planejada e executada a partir de softwares BIM.
Já David Phillip, diretor BIM da AECOM, uma das maiores empresas de engenharia do mundo, compartilhou sua visão sobre os benefícios não só de construir utilizando o BIM, mas também de revitalizar, a partir da criação de gêmeos digitais, estruturas que já existem, com a possibilidade de a fim de uma gestão mais eficiente dos empreendimentos.
O seminário foi finalizado com a apresentação de Michael Santrolli, do escritório Foster + Partners, que passa por uma transformação digital com implantação do BIM em quase todos os projetos. O case mais emblemático é o Aeroporto Internacional da Cidade do México.