Especialistas discutem importância da manutenção permanente durante o XII Congresso Nacional de Engenharia

Campanha Prazo de Validade Vencido, do Sinaenco, reforça a importância de políticas de conservação do meio ambiente construído.

No dia 18 de setembro, o presidente nacional do Sinaenco, Russell Rudolf Ludwig, participou do painel “Engenharia de Manutenção para Garantir Segurança e Qualidade de Vida”, ao lado do secretário municipal de Infraestrutura e Obras de São Paulo, Marcos Monteiro, e do reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos André Bulhões Mendes. O painel fez parte do XII Congresso Nacional dos Engenheiros e abordou a necessidade urgente de políticas públicas focadas na manutenção da infraestrutura urbana.

Campanha PVV: a importância da manutenção

Em sua apresentação, Russell destacou a campanha do Sinaenco Prazo de Validade Vencido (PVV), que tem como objetivo sensibilizar os órgãos públicos e a sociedade sobre a importância da manutenção permanente do ambiente construído. Lançada em 2005, a iniciativa já realizou levantamentos em 22 cidades brasileiras, revelando o estado de conservação de pontes, viadutos, estádios, galerias e praças públicas.

Em várias das cidades analisadas os estudos do PVV motivaram ações corretivas. Em 2007, o levantamento serviu de base para a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público e o munícipio de São Paulo, para a ampliação dos investimentos na manutenção de Obras de Arte Especiais (OAEs) da cidade. Dez anos depois, em 2017, o Sinaenco conduziu um novo estudo abrangendo 72 pontes e viadutos da capital. A prefeitura, então, lançou um pacote de investimentos voltado à inspeção e à manutenção dessas estruturas.

Desafios: continuidade dos programas

Segundo Russell, o maior desafio em relação às estruturas públicas é garantir a continuidade dos programas de manutenção. O Sinaenco entende como fundamentais a implantação de sistemas de gestão de ativos e a destinação de recursos orçamentários específicos, em todas as esferas governamentais, para a conservação das infraestruturas. Estudos internacionais indicam que o ideal seria investir cerca de 2% do PIB em manutenção de infraestrutura. No entanto, poucos governos destinam verba suficiente para essas iniciativas.

O secretário Marcos Monteiro destacou que São Paulo tem avançado nesse sentido, mas o desafio ainda é grande no restante do país. A cidade conta com mais de 1.300 unidades estruturais, e o objetivo é vistoriar cada uma regularmente, com prioridade para as que apresentam maiores riscos. Desde 208, foram investidos R$ 1,7 bilhão no programa de manutenção de pontes e viadutos. Há ainda há um plano em andamento para melhorar as galerias de drenagem, informou o secretário.

Crise climática e investimentos contínuos

A crise climática, somada à falta de manutenção adequada, tem agravado os desastres urbanos, tornando ainda mais urgente a necessidade de investimentos contínuos na conservação das infraestruturas. Carlos André Bulhões, reitor da UFRGS, ressaltou que entre 2010 e 2022 o Brasil sofreu prejuízos de cerca de R$ 700 bilhões devido a desastres naturais. Esse valor pode chegar a R$ 1 trilhão, incluindo os danos causados pelas inundações no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024.

Bulhões criticou a tendência de priorizar investimentos em grandes obras de construção, enquanto a manutenção e operação, muitas vezes mais caras que a própria construção, são negligenciadas. Ele reforçou que o problema não é a falta de conhecimento técnico ou soluções de engenharia, mas sim a baixa maturidade institucional e a falta de uma gestão eficiente.


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