Interoperabilidade e bibliotecas BIM: a palavra é a cooperação
O segundo dia do 3º Seminário Internacional: A ERA BIM trouxe uma série de temas fundamentais para desvendar questões fundamentais para o BIM, entre elas, a questão da interoperabilidade e das bibliotecas de objetos.
Confira, a seguir, resumo dos painéis e mesas-redondas virtuais, que ocorreram em 25 de novembro.
>>> Best-sellers BIM
Nesse painel, com mediação do professor da Universidade Federal do Paraná, Sergio Scheer, autores de obras sobre BIM compartilharam suas visões sobre o cenário do BIM ao redor do mundo.
Coautor da última edição do Manual BIM (BIM Handbook, 2018), Ghang Lee, mostrou em detalhes a situação do BIM em seu país, a Coreia do Sul, comparando a experiência com a de outras regiões. Segundo ele, a maturidade do modelo ainda não foi alcançada, mas já é possível tirar lições a partir do que já foi feito até aqui.
“Roma não foi construída em um dia. Há dez anos, se esperava cerca de 25 usos para o BIM, hoje estão previstos mais de 300. A adoção tem sido vagarosa, mas estável, e a indústria vai evoluir para alcançar a maturidade com relação ao BIM. É preciso abandonar a ideia de que experts no modelo sejam especialistas em software. São, na verdade, especialistas nas aplicações do BIM ao longo do ciclo da construção. Quanto mais entender, mais utilizará o BIM de maneira adequada e enxergará benefícios nisso. ”
Lee mostrou ainda dados de uma pesquisa baseada no método Net Promoter Score (NPS) aplicada a empresas de arquitetura e construção. A pesquisa se apoia na seguinte questão: “de 0 a 10, qual a probabilidade de você recomendar o produto/serviço a alguém?”. O NPS de empresas que utilizam o BIM de 2016 a 2020 foi positivo, ainda que oscilante, ao passo que não usuárias do modelo tiveram avaliações significativamente negativas no mercado.
A apresentação seguinte ficou a cargo do Dr. Finith E. Jernigan, autor de obras referência como Big BIM, little BIM (1996) e BIG BIM 4.0 (2017). Jernigan dedicou parte da apresentação a estabelecer aqueles que ele considera alguns dos principais problemas da indústria da construção, que se acumularam por 30 anos e se somam agora aos desafios e oportunidades impostos pela pandemia do novo coronavírus.
“A indústria da construção precisa mudar radicalmente. Vivemos na era da conectividade, e quem não fizer a transição, vai fechar as portas. Um estudo da McKinsey aponta que o lucro da parcela do mercado que fizer as mudanças necessárias pode subir de 5% para 10%, quem não quer dobrar o lucro do seu negócio? O big BIM hoje é uma realidade, e é preciso pensar mais globalmente na gestão de ativos, e menos em projetos para a implantação da ferramenta, em prol resultados melhores”, apontou Jernigan.
>>> Interoperabilidade e Open BIM
Sob a coordenação do português José Carlos Lino, pesquisador da Universidade do Minho e professor da NossoBIM, o painel tratou da interface entre os sistemas e softwares e o uso de padrões neutros.
Para Jeffrey Ouellette, coordenar técnico da buildingSMART International, as tecnologias atuais já oferecem muitas possibilidades, sobretudo no formato IFC, e as empresas devem tirar o foco dos software como o problema ao elaborar seus projetos.
“Nenhuma empresa pode contar com todas as ferramentas para o ciclo de vida da construção, então, temos que sair perspectiva da ferramenta como solução. O que importa são os dados. Eles devem ser a plataforma que orienta o trabalho em BIM, sob a perspectiva de quais dados realmente fazem a diferença e devem ser preservados”, orientou Ouellete.
Rob Roef, também membro da buildingSMART International (BSI), ressaltou a importância do BIM e da interoperabilidade para a construção de instalações confortáveis, saudáveis e acessíveis. Já Enzo Blonk, da GS1, focou na relevância das normas para a padronização dos sistemas e na rastreabilidade dos materiais e das informações. “A indústria da construção tem um nível muito baixo de digitalização. A produtividade pode ser aumentada drasticamente, disse.
>>> Colaboração entre equipes
Diego Vargas, gerente nacional de vendas da Graphisoft, trouxe um pouco da história do Archicad, ferramenta que, nas palavras dele, revolucionou a forma de se pensar arquitetura, consistindo em BIM desde 1984. O foco da apresentação foi detalhar o sistema considerando quatro pilares principais: criação, documentação, colaboração, visualização e análise. Vargas ainda ressaltou a importância da integração do trabalho, inclusive entre concorrentes.
“Nós entendemos que a colaboração é a chave. O OpenBIM é uma abordagem moderna de colaboração, que envolve todos os fornecedores de software, escritórios de A&EC e proprietários de edifícios. É possível trabalhar com os seus melhores parceiros, independente de software, tendo o foco em soluções voltadas para o futuro, com transparência e garantia de qualidade e de dados acessíveis”, apontou.
>>> Bibliotecas de objetos BIM
O painel sobre bibliotecas BIM foi mediado pela arquiteta Larissa Guerra, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Larissa faz parte da equipe responsável pela Plataforma BIM BR e pela Biblioteca Nacional BIM, que está sendo montada em parceria com o governo federal para centralizar e democratizar o acesso à informação sobre BIM.
O painel contou ainda com a participação de profissionais de empresas de materiais e equipamentos para a construção, que destacaram soluções para viabilizar o uso de seus produtos em modelos BIM.
Segundo o engenheiro Douglas Oliveira, da Amanco Wavin, as bibliotecas oferecem a representação de cada produto e encaixe das peças, que podem ser baixadas e inseridas no projeto.
“Isso facilita o trabalho durante a modelagem. Na execução, isso evita erros, como componentes de tamanho errado ou que não existem no mercado. Também fornecemos suporte e treinamento aos nossos clientes, seja com relação a bibliotecas específicas, seja com relação de qual biblioteca é mais adequada para determinado uso”, contou Oliveira.
A engenheira Giovanna Marquioreto falou pela Hilti do Brasil: “Disponibilizamos as famílias paramétricas necessárias para os nossos clientes. Fazemos treinamento e consultoria e muitas vezes fornecemos isso até de maneira personalizada. Também disponibilizamos uma série de formatos que podem ser escolhidos na plataforma da empresa”, disse.
>>> Desafios na contratação em BIM
O dia foi encerrado com uma mesa redonda que, sob a mediação da consultora em BIM e arquitetura, Stefania Dimitrov, discutiu modelos de contratação de serviços com o uso das metodologias por estatais e órgãos públicos.
Alexandra Aguiar, arquiteta da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (Sehab) apresentou como a transição para o BIM está sendo planejada e executada. A implantação começou na área de edificações (Habitações de Interesse Social) e posteriormente será ampliada aos projetos de urbanização de favelas. Uma das medidas recentes foi a publicação do Caderno de Projetos em BIM, destacou a engenheira Maria Gullo, diretora do Departamento de Projetos da Secretaria.
“A Sehab está preparando uma documentação para descrever e normatizar os procedimentos e conteúdo dos projetos que serão desenvolvidos em BIM”, explicou a arquiteta, que elencou algumas dificuldades como o funcionamento de CDEs, a colaboração entre disciplinas e o georreferenciamento da topografia da obra. “Em 2020, estamos fazendo a primeira licitação em BIM, que deve contar, após a concepção da edificação, com sete entregas relacionadas ao plano executivo do projeto”, antecipou.
André Baeta, auditor do Tribunal de Contas da União, apontou alguns pontos que considera problemáticos no decreto federal nº 10.306, de 2 de abril de 2020, que estabelece exigências para a contratação de empreendimentos em BIM a partir de 2021.
Para Baeta, a limitação de disciplinas na primeira fase não faz sentido, uma vez que é necessário um projeto completamente modelado para se extrair bons quantitativos. Também levantou questões a respeito de quais poderiam ser os parâmetros para as contratações e licitações em BIM por parte dos contratantes.
“As principais falhas em obras públicas nascem nos projetos. O BIM melhora o detalhamento e a integração das disciplinas, bem como a estimativa de custos. Se as empresas investirem um bom montante, tempo e atenção nas etapas de projeto, os resultados poderão ser vistos adiante no ciclo da construção”, concluiu Baeta.