Projeto: uma chave para sair da crise
Em debate, entidades de arquitetura e urbanismo reiteram importância do projeto e das boas práticas de contratação
A crise econômica brasileira é resultado da falta de projeto. E neste momento, em meio à crise, é necessário investir em mais e melhores projetos para que a retomada do desenvolvimento se faça de forma consistente e sustentável. Esta visão, do projeto como ferramenta-chave para a crise, é uma das principais conclusões do debate “A crise e a arquitetura”, realizado nesta quarta-feira (16) na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil/SP.
O encontro foi aberto pelo presidente do IAB/SP, José Armênio de Brito Cruz, que compôs a mesa ao lado de Carlos Roberto Soares Mingione, representando o Sinaenco; Miriam Addor (Asbea); Nina Vaisman (Abap); Maurílio Ribeiro Chiaretti (Sasp) e Enio Moro Jr. (Abea).
Carlos Mingione lembrou que embora o Sinaenco venha trabalhando pela valorização do projeto, os gestores públicos insistem em contratar projetos pelo menor preço, ou, pior ainda, pela modalidade de pregão, critério que leva inexoravelmente ao rebaixamento na qualidade dos projetos resultantes. O presidente do Sinaenco/SP afirmou que a situação piorou após 2014, com a vigência do Regime Diferenciado de Contratação (RDC), o que levou à contratação de obras sem qualquer projeto.
A presidente da Asbea, Miriam Addor, observou que o resultado desses “atalhos” adotados pelo poder público pode ser observado, por exemplo, nas obras do VLT de Cuiabá, paralisadas pela impossibilidade de que os trilhos sejam corretamente nivelados em um viaduto com projeto insuficiente. Outro exemplo é um dos trechos do monotrilho de São Paulo, que teve as obras paradas pela “descoberta” de um córrego no meio do trajeto. “Um projeto não pode ser contratado pelo menor preço, da mesma maneira como se compra um lápis”, resumiu Miriam.
A presidente da Abap Nina Vaisman jogou luz sobre a importância do projeto de arquitetura na construção da paisagem urbana. Ela afirmou que a má qualidade da infraestrutura em calçadas, praças, sistemas de drenagem urbana e mesmo na relação entre as edificações e as ruas é resultado da falta de projetos elaborados com a qualidade desejável para as cidades contemporâneas. Essa desvalorização da arquitetura se reflete no esvaziamento das empresas, com a perda de profissionais e o aumento de demissões, concluiu Nina.
Maurílio Ribeiro, presidente do sindicato dos arquitetos, mostrou números que evidenciam a crise no setor: de 2014 a 2016 houve um aumento de mais de 500% nas demissões de arquitetos em todo o Estado de São Paulo. O representante do Sasp defendeu uma ação para a valorização do projeto, numa relação direta com o público final, de forma a estimular o consumidor a contratar projetos em qualquer obra de reforma ou ampliação de uma residência. “Temos que mostrar que projeto não é luxo, mas sim um instrumento para valorizar o imóvel, melhorar a segurança e conforto de seus usuários”, argumentou Ribeiro.
Enio Moro, da Abea, falou sobre o trabalho desenvolvido pela entidade de ensino para definir e esclarecer as atribuições da profissão para os jovens egressos das faculdades. Ele lembrou o grande número de escolas de arquitetura hoje existentes no país e as dificuldades em manter corpos de professores qualificados e alinhados com as necessidades do momento.
Após um intenso debate, que contou também com a participação do presidente do CAU/SP, Gilberto Belleza, os presentes decidiram redigir e encaminhar um documento às autoridades com recomendações para a melhora na contratação de projetos. O texto deverá ser divulgado até o final de março.
Outro resultado do encontro, foi a proposição de um convênio com o CAU/SP (que é uma autarquia federal) para desenvolver campanhas para sensibilização da sociedade e autoridades sobre a importância dos projetos e as melhores práticas na para a sua contratação.