Sinaenco envia carta aberta à Autodesk
No documento, entidade pede transparência e diálogo sobre as práticas comerciais da empresa desenvolvedora de aplicativos para o setor de arquitetura, engenharia e construção.
Representante de cerca de 30 mil escritórios de arquitetura e engenharia consultiva no Brasil, o Sinaenco enviou uma carta aberta (veja conteúdo no box) ao CEO da Autodesk, Andrew Anagost, na qual pede diálogo e transparência por parte da empresa a respeito de suas práticas comerciais.
A Autodesk é uma empresa desenvolvedora de aplicativos para o setor de arquitetura, engenharia e construção. Entre eles, o AutoCAD e o Revit, software de Modelagem da Informação da Construção (BIM).
Em pesquisa realizada com empresas filiadas, a entidade identificou enorme insatisfação com a política de preços da Autodesk. Os participantes apontaram como problemas os aumentos expressivos nos preços das licenças e as alterações constantes nos modelos de comercialização. Também criticaram o fato de que os custos mais altos não têm sido compensados com incremento no desempenho dos produtos.
O Sinaenco lembra que a adoção do BIM pelo setor público brasileiro a partir de 2021 torna ainda mais urgente o diálogo e o entendimento entre os usuários e a Autodesk. “É preciso atuar em parceria, entendendo os interesses e as possibilidades das empresas de projeto, construção e gestão de ativos, para que seja possível realizar esse processo com a garantia de se poder utilizar as ferramentas adequadas a um custo compatível”, diz trecho do documento.
Com a publicação da carta aberta, o Sinaenco adere à iniciativa iniciada no Reino Unido. Em julho, escritórios de arquitetura, muitos deles com atuação internacional, lançaram um manifesto público expressando preocupações com o aumento dos custos do Revit, falhas no desenvolvimento do software, e os impactos dessa combinação na produtividade dos escritórios de projeto.
Na condição de representante de mais de 30 mil escritórios de Arquitetura e Engenharia Consultiva no Brasil, o Sinaenco (Sindicato Nacional de Arquitetura e Engenharia Consultiva) se une à iniciativa do Royal Institute of British Architects – RIBA na demanda por diálogo e entendimento com a Autodesk em relação às suas práticas comerciais.
Em pesquisa realizada pelo Sinaenco junto a empresas filiadas, coincidindo com os termos apontados no documento elaborado pelo RIBA, nota-se grande insatisfação com a política de preços praticada pela empresa. Segundo os respondentes, sem apresentar nenhum incremento realmente inovador no desempenho de seus produtos, a empresa vem aumentando sucessivamente o valor de sua aquisição, provocando o consequente aumento do custo operacional das empresas de projeto. No Brasil, esse processo é agravado pela variação cambial, o que torna a utilização desses produtos ainda mais fora da realidade do nosso mercado.
Outro aspecto de grande insatisfação diz respeito à estratégia de comercialização de licenças de produtos avulsos com preços muito próximos aos de venda de pacotes de produtos, induzindo, forçosamente, à compra de itens desnecessários ou de nenhum interesse para os usuários. Mesmo porque os itens integrantes de um determinado pacote não podem ser utilizados de forma simultânea, ou seja, adquire-se um conjunto de produtos mais só pode utilizar um produto por vez.
Também a substituição da aquisição da licença de uso permanente pela licença por tempo determinado obriga às empresas a pagarem por renovações periódicas, sem nenhuma contrapartida significativa na qualidade do produto, sustentando o processo que tem culminado com a majoração significativa dos custos das empresas.
Além disso, a alteração recente do modelo de suas licenças “multiusuário” (multi user) para “usuário nomeado” (named user) exige que se tenha uma licença por usuário. O modelo de licença “multiusuário” permitia o acesso por vários usuários diferentes, enquanto o novo modelo “usuário nomeado” é acessado por apenas um usuário cadastrado. Com isso, as empresas precisarão ter um número de licenças superior ao normalmente praticado. Considerando a rotina de trabalho praticada nos escritórios de projeto, bem como nas demandas de obra, entende-se que o formato de licença “multiusuário” é mais adequado, pois permite mais flexibilidade aos usuários, além da rastreabilidade no caso de compartilhamento.
No início do processo de adoção do BIM pelo setor público brasileiro, é preciso atuar em parceria, entendendo os interesses e as possibilidades das empresas de projeto, construção e gestão de ativos, para que seja possível realizar este processo com a garantia de se poder utilizar as ferramentas adequadas a um custo compatível.
Entendemos que a única forma de evitar a formação de uma reserva de mercado ou monopólio é com a existência da interoperabilidade entre os diversos softwares com funções similares ou complementares, seja através do IFC ou qualquer outro meio que possibilite a integração e compatibilidade entre eles. Sem a interoperabilidade o BIM perde sua principal atribuição: o compartilhamento de informações.
Nestes termos, o Sinaenco espera uma postura de parceria por parte da Autodesk, na certeza de que somente dessa forma poderemos criar a sinergia necessária para a realização de nosso objetivo comum: entregar sempre os melhores projetos.