Como as empresas estão lidando com a inovação e implementando o BIM

O primeiro dia de Seminário Internacional: A ERA BIM contou com cases de empresas públicas e privadas sobre transformação digital e projetos com implementação do modelo.

Abrindo os trabalhos do 3º Seminário Internacional: A ERA BIM, o presidente Nacional do Sinaenco, Carlos Roberto Soares Mingione, ressaltou o dever da entidade em informar e atualizar os profissionais da categoria sobre a regulação, boas práticas e novas tecnologias no setor.

Na sequência, a auditora Adriana Pessoa, do Ministério da Economia, apresentou alguns detalhes do que está sendo feito pelo Comitê Gestor da Estratégia BIM BR, no âmbito dos objetivos do programa do governo federal.

Segundo ela, o comitê tem adotado diversas medidas, visando o cumprimento das metas de disseminação das metodologias no país. Entre as ações, realização de estudos para a criação de linhas de financiamento para adoção do BIM por pequenas e médias empresas, a capacitação do setor público para contratação, a criação de células BIM em universidades para apoiar a capacitação, além de estudos da indústria 4.0 aplicada ao BIM e a construção de guias normativos.

Confira, a seguir, resumo dos painéis e mesas-redondas virtuais que ocorreram no dia 24 de novembro.

>> Passado, presente e futuro do BIM

A primeira palestra ficou a cargo do britânico Jonathan Ingram, considerado um dos pais do BIM, já que projetou e escreveu sobre as primeiras ferramentas, tendo sido reconhecido com diversas premiações pelo desenvolvimento de sistemas que anunciaram uma revolução com o uso na modelagem.

Em sua apresentação, Ingram fez um histórico sobre o desenvolvimento de algumas dessas ferramentas, como o Sonata, nos anos 1980, e o Reflex, na década de 1990. Elas influenciaram outros tantos sistemas, como o Revit e o Archicad.

Para Ingram, os softwares não mudaram muito em 20 anos: eles contaram com alterações, mas a tecnologia é basicamente a mesma, e têm erros fáceis de serem corrigidos. Para isso, um certo monopólio existente hoje deve ser quebrado: “Podemos fazer produtos similares, de maneira barata e aberta, que corrija os erros e torne mais fácil a transferência de informações”. Ele também aposta na simplificação do modelo no futuro, com o incremento de IoT (internet das coisas) e IA (inteligência artificial).

>>> Experiências de implantação do BIM

Esse painel, sob a mediação do vice-presidente de arquitetura do Sinaenco, Eduardo Sampaio Nardelli, destacou experiências e desafios da adoção do BIM em projetos do setor público.

O arquiteto Daniel Fernandes (do escritório Fernandes Associados) trouxe o case do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que lançou concorrência de projetos considerando a metodologia. Segundo Daniel, o processo de adaptação foi bem ajustando, por conta da não sobrecarga de demandas desnecessárias e de um acordo flexível, mas claramente estabelecido entre as partes no anteprojeto.

“Acreditamos que o impacto do BIM é muito grande e permite o aceleramento dos processos, mas muitos clientes ainda não estão preparados para recebê-lo. Os softwares não devem ser um limitante da concorrência, caso contrário, os contratantes podem perder a oportunidade de atingir os resultados a partir de soluções e profissionais que realmente resolvam o que ele precisa”, afirmou Daniel.

Depois, foi a vez de Eduardo Tavares, gerente de projetos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), falar sobre as ações da empresa. Segundo ele, a CPTM tem como objetivo melhorar e expandir seus serviços, que antes da pandemia, atingiam mais de 3 milhões de passageiros por dia, e para tal, tem se esforçado para implantar o BIM em seus projetos – principalmente pela possibilidade de simular projetos com um mínimo de impacto em suas operações.

“Desde 2013, a CPTM investe no treinamento de equipes e em projetos pilotos, no desenvolvimento de melhores especificações BIM e na construção de uma biblioteca BIM com objetos específicos, que é compartilhada com empresas contratadas. Esses projetos internos ajudam também a melhorar os processos de contratação em BIM, com capacitação das equipes para recebê-los”, disse Eduardo.

Michel Barbosa, da VGTech Projetos de Instalações e Automação, mostrou o projeto de um conjunto habitacional em Jaboatão dos Guararapes (PE), com instalações baseadas em objetos da biblioteca BIM da Amanco Wavin. Para ele, a qualidade das simulações é um diferencial, que tem permitido a correção de problemas, que muito provavelmente só seriam identificados no momento da execução.

A especialista em aeroportos Patrícia Oliveira, da Infraero, contextualizou a implantação do BIM como parte de um processo de transformação digital da estatal. O principal case apresentado por Oliveira foi o de escaneamento de ambientes, focado na segurança de operações estabelecida pelo Plano Básico de Zona de Proteção do Aeródromo, exigido pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).

Segundo Patrícia, a adoção das tecnologias na Infraero tem demandado, entre outras medidas: elaboração de manuais e procedimentos, a criação de bibliotecas de objetos, treinamentos e capacitações, a criação de um ambiente comum de dados, além de investimentos em software e hardware.

Pedro Brito, diretor de Investimentos da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), mostrou com o BIM está sendo incorporado aos programas de concessão. Um dos exemplos de aplicação foi no projeto básico do lote Piracicaba-Panorama, leiloado no início de 2020. “Todos os próximos editais serão feitos dessa maneira. Nossa concessão tem duração de 30 anos. Nós precisamos pensar no futuro e a qualidade dos projetos deve aumentar muito com a implementação do BIM”, aposta Brito.

“Foi dita aqui uma frase-chave: o que deve importar é o que é melhor para o projeto. Softwares e tecnologias são desenvolvidas todos os dias. Talvez falte um benchmark para estabelecer quais ferramentas são melhores para os usos e objetivos distintos”, ponderou Eduardo Nardelli, do Sinaenco.

>>> Inovação na cadeia produtiva da construção

Moderado por Rogério Moreira, supervisor de Projetos e Tecnologia no Instituto SENAI de Tecnologia em Construção Civil em São Paulo, o painel tratou do futuro do setor, com foco em novas tecnologias fontes de financiamento.

André Medina, gerente de Inovação da Andrade Guiterrez, mostrou o modelo de inovação da empresa. Em 2017, a construtora começou a apostar em inovação aberta, a partir da atuação do programa Vetor AG, com aplicação piloto de soluções de startups no canteiro de obras. Medina mostrou diversos exemplos com de novas tecnologias digitais e hard science, que tem gerando importantes avanços para a empresa.

“A produtividade do setor da construção civil caiu nos últimos anos; é um dos setores menos digitalizados do mercado. O programa de inovação aberta tem como foco pilotos em escala real. Ele agiliza a contratação de startups e a solução de problemas. Como contrapartida, oferece auxílio financeiro, espaço de coworking e possibilidade de aporte investimentos para as startups, que podem contar com a AG como cliente anjo para se estabelecer e desenvolver novas tecnologias voltadas para o mercado da construção”, resumiu Medina.

Fabiana Rorato, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), apresentou os desafios de inovação numa empresa de economia mista. Como quarta maior companhia de saneamento básico do mundo, a empresa tem estruturas gigantescas de abastecimento, que atendem a milhões de pessoas em situações e condições diversas.

“Trabalhar para manutenção e operação adequadas, organizar programas estruturantes e fazer uma boa gestão de recursos são o foco das ações. O núcleo de inovação da Sabesp inclui pesquisa básica e aplicada, desenvolvimento e projetos pilotos, e trabalha com agentes financiadores como o BID, Fapesp e Finep”, explicou.

Andrea Leal, gerente do Departamento Regional do Sudeste da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), detalhou alguma das linhas de financiamento para inovação da instituição, com recursos reembolsáveis e não reembolsáveis, acessados por meio de editais, além dos investimentos e fundos de venture e subvenção econômica. Também ressaltou o papel da Finep como indutora da inovação ao conectar startups, empresas e instituições de ciência e tecnologia.

“Há várias possibilidades de apoio ao setor de arquitetura e engenharia consultiva por parte da Finep, como o desenvolvimento e aperfeiçoamento de softwares, a interoperabilidade de sistemas, e projetos focados em cidades inteligentes, sustentabilidade, novos materiais”.

Experiência dos fornecedores de tecnologia

Ao longo do primeiro dia de Seminário, profissionais das empresas desenvolvedoras de software para a construção falaram sobre as diferentes tecnologias BIM, suas aplicações e exemplos que atestem as potencialidades do uso dessas ferramentas.

O engenheiro Alexandre Miranda, da ACCA Software, ressaltou a importância do uso de modelos neutros do BIM, com destaque para o IFC. A empresa é uma das líderes do mercado em certificação de softwares no formato, além de ter membros na ABNT/CEE-134, que trabalha na normatização relativa ao BIM no Brasil. Ferramentas como o usBIM.clash, PriMus, usBIM.plataform e Edificious foram apresentadas, algumas das quais foram exploradas em oficinas virtuais com participantes do seminário.

Simon Huffeteau, líder da Indústria de Construção, Cidades e Territórios da francesa Dassault Systèmes, trouxe cases de sucesso com aplicações da empresa e falou sobre as mudanças benéficas provocadas pelo uso do BIM. Para ele, não é possível agilizar o trabalho apenas fornecendo ferramentas, mas transformando a maneira de pensar o ambiente de construção. Nesse sentido, o BIM tem muito a contribuir, seja para o aumento da produtividade ou para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

“Os prédios e estruturas em si não mudaram efetivamente nos últimos 20 anos. Não vimos um decréscimo das emissões de carbono em nem a produtividade aumentando, de forma que temos grandes desafios a enfrentar” disse Simon.

A especialista técnica da Autodesk, Joyce Delatorre, apresentou diferentes cases de clientes com soluções BIM desenvolvidas a partir de aplicações da empresa. Um dos destaques, com simulações de obras no Aeroporto de Fortaleza, envolveu a redução de 40% dos custos e 35% do prazo de execução, se comparadas com a realização sem a adoção do das soluções em BIM da empresa.

“A pandemia trouxe uma demanda grande pela possibilidade de se poder trabalhar em qualquer lugar, sem perder a produtividade. Isso aumenta a necessidade de soluções em nuvem, com diminuição de papel e uma base de dados confiável e colaborativa. ”

 

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