Universidades trabalham para inserir o BIM na grade curricular

Fundamental para ampliar a base de novos profissionais capacitados para atuar em BIM, inserção do ensino sobre as metodologias começa a ser estruturada.

O terceiro dia do 6º Seminário Internacional A ERA BIM foi aberto por uma temática às vezes pouco discutida: a inserção das novas tecnologias nos cursos de engenharia e arquitetura. Os especialistas participantes discorreram sobre a importância de gerar interesse nos futuros profissionais do mercado a respeito do BIM, uma vez que este representa o presente e o futuro do setor em escala nacional e mundial.

Larissa Quadros, mestranda da Universidade Federal de Santa Maria, abriu os trabalhos do dia falando sobre o projeto de implantação do BIM no curso de engenharia civil na universidade em que atua. Ela explicou que, em pesquisa realizada, 99% dos alunos queriam contar com uma abordagem sobre o BIM no curso, enquanto 80% dos professores tinham interesse em se capacitar. Foi promovido um diagnóstico para identificar em quais disciplinas esses conhecimentos poderiam ser integrados, com mais de 50% das disciplinas tendo interface para a aplicação.

“Decidimos focar em políticas e processos e lançamos um projeto piloto de aplicação do BIM em quatro disciplinas, visando estabelecer uma trilha de conhecimento em BIM que dê um panorama de normas, contratações, entregas e formatos, deixando claro como as disciplinas se comunicam entre si”, apontou Larissa. “Iniciamos nesse semestre. Temos desafios no processo de capacitação dos professores e de estruturar o processo com ele já em andamento”, apontou.

Em seguida, Mônica Salgado, membro do programa de pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, discorreu sobre o fato de gestão de projetos ser um problema antigo da indústria, que remonta o século passado. “Temos de buscar uma nova maneira de ensinar, pensando que o BIM é uma solução para uma série de necessidades que já datam de muitos anos. A maturidade tem a ver com a mentalidade, e é isso que precisamos fomentar”, apontou a professora.

Mônica coordena o projeto de Estruturação e Implementação da Célula BIM na FAU UFRJ, que está estruturado em três fases: conhecimento do corpo docente, reuniões de trabalho e análise da matriz curricular. Um dos maiores desafios, segundo ela, é o entendimento equivocado do que é o BIM. “Estamos realizando oficinas com os professores, pílulas do conhecimento. É preciso romper a barreira do medo do desconhecido. Mas temos no corpo discente nossos principais aliados. O BIM não deixa de ser um problema geracional, e cada universidade deve buscar seus caminhos para começar a atender essa demanda”, defendeu.

Eduardo Sampaio Nardelli, curador do seminário e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, fechou o painel contando a experiência da estruturação de uma disciplina optativa 100% focada em BIM no curso de graduação. “Já temos leis, decretos e muitas cobranças relacionadas ao BIM no setor. Não podemos esquecer de que tudo começa com a formação de profissionais qualificados. Nosso objetivo, portanto, é dar aos alunos competências que eles possam desenvolver no futuro”, afirmou.

Nardelli contou que a disciplina está estruturada em três pilares: conhecimento, em que os alunos aprenderão sobre o que o BIM, seus marcos no país, modelos paramétricos, ciclo de vida de edificações e interoperabilidade; habilidade, em que será explicado como construir um plano de execução em BIM, modelagem, validações, ambiente comum de dados e gestão de informações; e atitude, em que será fomentado que atuem com proatividade, perseverança, resiliência, empatia e liderança.

“Serão formados equipes de 3 pessoas, e os critérios de avaliação girarão em torno do desenvolvimento do plano de execução, validação e entrega do modelo. Nossa disciplina começará a ser ministrada agora, espero que no próximo seminário já possa trazer os resultados dessa implantação”, disse Nardelli.

Por fim, Hugo Mulder, designer, engenheiro e pesquisador da University of Southern Denmark, trouxe a experiência da implantação de realidade estendida no programa de engenharia civil da universidade em que atua. “São esses alunos que vão trabalhar nas nossas empresas no futuro. Será responsabilidade dessa geração atuar nos ambientes construídos para lidar com as consequências da crise climática, e precisamos prepará-los”, apontou Hugo.

Ele contou como os alunos do curso estão recebendo headsets de realidade estendida para uma imersão colaborativa em design paramétrico. “Temos visto uma melhora em como os alunos entendem os desenhos e objetos 3D, de como trabalham de forma colaborativa, e também da qualidade do espaço construído. Os alunos podem caminhar dentro do design, fazer propostas de alteração, o que proporciona maior precisão nos projetos. E além de tudo, os alunos gostam, o que contribui muito para a adesão”, finalizou.

Fotos: Ricardo Maizza