Uso do BIM em saneamento e rodovias mostra potencial das tecnologias para grandes obras

Além das fases de projetos e execução, aplicação para gestão de ativos colabora para otimizar serviços relacionados à infraestrutura.

O uso do BIM em edificações tem se tornado mais comum nos últimos anos, com um amplo suporte de software e tecnologias. No entanto, seu uso em obras de infraestrutura, até pela maior complexidade exigida por esses projetos e a quantidade de entes envolvidos nessas mudanças, ainda tem um caminho a percorrer, considerando inclusive o desenvolvimento de novas tecnologias que possam otimizar e qualificar projetos e obras dessa natureza.

Considerando esse cenário e também a importância crucial desse setor , o 6º Seminário Internacional A ERA BIM trouxe discussões acerca da implantação do BIM em grandes obras, tais como de saneamento básico e de rodovias. Embora os cases de sucesso tenham permeado todo o evento, foi na tarde do dia 23 de novembro que as discussões se intensificaram em torno do tema.

Saneamento

No painel “BIM no Saneamento”, a Sabesp, a AEGEA e a Autodesk dividiram o espaço para falar sobre a evolução do uso da tecnologia nos projetos de saneamento do Brasil. Cahuê Carolino iniciou os trabalhos ressaltando a importância da Sabesp para a sociedade, consistindo na 4ª maior empresa de saneamento do mundo, e os desafios da implantação do BIM. Ele deu detalhes do Programa BIM Sabesp, que visa a melhoria da gestão e operação dos ativos da empresa e está dividido em três fases: planejamento, projeto e imobilização; execução e desenvolvimento de processos e tecnologia; e metodologia de gestão.

“Atualmente, estamos no processo de implantação, já começando a gerar valor após o primeiro momento, de planejamento. Temos uma governança voltada para a adoção do BIM, e já lançamos o nosso manual, que é o nosso BIM Mandate. Também temos um ambiente de colaboração, com fluxos e processos definidos, que hoje é o coração do programa. Estamos evoluindo com relação ao desenvolvimento de bibliotecas de famílias, objetos e templates, a integração com sistemas de informação geográfica e módulo de gestão de ativos da empresa”, contou.

Wagner Oliveira trouxe detalhes sobre os resultados do Programa Infra Inteligente, da AEGEA, maior empresa privada de saneamento do país, que atualmente atende mais de 31 milhões de clientes em 505 municípios. “Estamos focados na gestão de ativos. O objetivo é vermos melhorias no nível de eficiência, qualidade, melhor prestação de serviço e sustentabilidade na operação, na vida útil do empreendimento”, pontuou.

Segundo Wagner, o grande desafio é coordenar todas as operações. A empresa já desenvolveu seu Manual BIM e hoje conta com mais de 100 mil ativos em seu banco de dados, e o processo de digitalização dessas informações deve ser aprimorado cada vez mais. “Desenvolvemos um ambiente comum de dados para trabalhar com documentações vivas. Focando na composição dos dados, é possível buscarmos melhores soluções ao longo do ciclo de vida dos ativos”, explicou.

Por fim, Pedro Soethe, líder técnico de vendas da Autodesk, destacou como o BIM será uma espinha dorsal na transformação digital dos ativos em saneamento, com novos ganhos em operação e manutenção de ativos. “Hoje, apenas 46% dos dados são efetivamente usados. Com o investimento em novas tecnologias, será possível simplificar os fluxos de trabalho. A Autodesk tem se movido na direção de reunir soluções em um único plataforma, em nuvem, facilitando a interoperabilidade”, afirmou.

Rodovias

Em seguida, foi a vez do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) dividir o palco com o Departamento de Estradas e Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e a Catter Engenharia para discutir a evolução do uso do BIM em rodovias.

Gabriela Fumagalli, Lucas Bôto e Thiago Davi Rosa detalharam a estrutura do DNIT para implantação do BIM, que hoje conta com especialistas com dedicação exclusiva. “Hoje, temos entregues tanto o PIB quanto o PEB, bem como o desenvolvimento de planos menores e paralelos, um caderno de requisitos técnicos para contratação em BIM, ações de comunicação e capacitação, que são muito importantes para a gestão da mudança, e também templates. Tudo disponível no site do DNIT”, contaram.

Já Vitor Calixto, coordenador do grupo do grupo de trabalho BIM do DER-MG, contou que desde 2019 o departamento já está atuando em BIM. “Iniciamos com ações de fomento, capacitação e cooperação com outras instituições em 2019. Em 2021, já tínhamos o primeiro decreto estadual com foco em BIM, e o primeiro edital com exigência de uso da modelagem, porém voltado para edificações. Em 2022, já temos 6 contratos em andamento, e a expectativa para 2024 é desenvolvermos o Caderno BIM para Minas Gerais, além de termos o projeto piloto de desenvolvimento do Rodoanel em BIM”, explicou.

Fábio Mendonça, da Catter Engenharia, completou o painel ressaltando que a utilização do BIM em obras de infraestrutura exige uma mudança de cultura que precisa partir da gestão, com um olhar de que é necessário trabalhar com informação para ter mais assertividade nas obras. “Hoje temos desafios na contratação, na valoração dos projetos, nas exigências de habilitação. Por isso, o trabalho do DNIT é muito importante”, ressaltou.

Por fim, Washington Luke, coordenador Executivo da Frente Parlamentar do BIM, fechou a sessão trazendo detalhes da criação do Instituto InfraBrasil, criado em 2023 para dar suporte aos trabalhos da frente parlamentar. “O instituto atuará como um órgão técnico. O BIM está evoluindo no Brasil, e a legislação mostra isso, mas o Brasil ainda não está preparado para as mudanças. Vamos construir as bases para que isso seja possível”, finalizou.

Fotos: Ricardo Maizza